terça-feira, 2 de julho de 2013

O Dia da Onça



Eu não sei a idade dos meus alunos. Nem quero saber! Não tenho essa preocupação quando me são designados novos alunos. Prefiro conhecê-los pelos olhos e tentar adivinhar o que vai por dentro de seus corações. Quais as suas dores, em que eles acreditam, o que é que os fazem felizes? Por que eles chegaram até mim?

O que normalmente encontro é uma criança escondida ali, ainda cheia de vontade de brincar mas sufocada desde a adolescência pela padronização do mundo adulto. Há uma saudade de rir sem malícia, de criar, de experimentar, de imaginar, de viver simples, de ser livre, de viver coisas bonitas. Quem não se lembra como era bom ficar deitado no chão, olhando as nuvens tomando formas. E depois da chuva avistar um arco-íris. E brincar com as sombras quando faltava a luz? Quem nunca fez isso quando criança? Daí a explicação por minhas aulas serem tão, digamos, diferentes... A gente brinca!

O que encontrei nos olhos do Uilson e do Eduardo, o primeiro com mais de trinta e o segundo com menos, foram meninos curiosos e inteligentes, capazes de aprender muitas coisas, bastando para isso serem estimulados. Como a maioria dos adultos, eles diziam que não tinham tempo para homework. Até que um dia eu virei onça! (De mentirinha, é claro!) Coloquei a fantasia, fiz um monte de caretas e falei entre rugidos de minha frustração quando percebia que eles nem se lembravam do que havíamos estudado aula passada. Os meninos levaram um susto e a brincadeira a sério, entenderam como "bronca" e fizeram homework sim, e dos mais bonitos e caprichados que eu já vi. Edu, capricha na criação de frases e elaboração de exercícios e me faz muitas deliciosas perguntas mostrando que ele está interessado naquilo que está aprendendo. Já o Uilson ficou fascinado pelas letras gordas desenhadas pela professora e encheu-as de cores e de palavras e de enfeites e criou frases e saboreou tudo com a gula de um menino. Resultado? Ele aprendeu tudo direitinho!

Quem dera eu tivesse realmente o poder de apagar suas dores de adulto com meu apagador de lousa! Apaga... a... dor. Entendeu, leitor?

Menino Uilson, menino Eduardo, I am very proud of you both and I know how much you can do. In you, I trust!

Teacher Suele Mello

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