quinta-feira, 2 de maio de 2013

Supervalorization of the Native English Teachers




Sobre a postura irresponsável da Open English, a carta aberta de Vinícius Nobre, presidente do BRAZ-TESOL

Em sua estratégia de entrar no mercado brasileiro, a Open English, uma escola de inglês fundada pelo venezuelano Andrés Moreno, lançou mão de uma propaganda anti-ética e apelativa que ridicularizava professores de inglês não-nativos (ou seja, quem não nasceu em um dos 75 países que tem inglês como uma língua oficial). A propaganda era tão desrespeitosa que acabou sendo tirada do ar depois de inúmeras reclamações e da proibição de veiculação pelo CONAR (Conselho Nacional de Regulamentação Publicitária). Para ler uma análise da propaganda, clique aqui.

Transcrevo abaixo a resposta – excelente e bem fundamentada – de Vinícius Nobre, presidente do BRAZ-TESOL – Associação Brasileira de Professores de Inglês como Segunda Língua. Obrigada, Vinnie, por sua posição, sempre sábia e informada, a respeito desse comercial tão mal feito.

Ah, e por uma dessas ironias do destino, é bom lembrar que nem o fundador da escola nem os professores são “nativos” se é que isso ainda serve de algo num mundo tão globalizado quanto o nosso…

Selma

(((())))))

Como presidente da maior Associação de professores de inglês do Brasil, eu sinto a incontrolável necessidade de me posicionar e expressar meu desapontamento e choque em relação ao comercial que está sendo veiculado em rede nacional promovendo um curso de inglês online.

Eu NÃO sou um falante nativo da língua inglesa, eu não tenho longos cabelos loiros, não moro na California e não visto uma camiseta justa para ensinar meus alunos. Na verdade, eu NUNCA tive um professor de inglês “nativo”. Eu nunca sequer morei em um país falante da língua inglesa. Eu simplesmente estudei inglês no meu país em desenvolvimento e depois cursei quatro anos de linguística, literatura, aquisição de idiomas estrangeiros, morfologia, pronúncia, sintaxe, educação, pedagogia, métodos e abordagens. Eu simplesmente dediquei 16 anos da minha vida ao desenvolvimento pessoal e profissional dos meus milhares de alunos.

Nunca exibi meu passaporte ou minha cidade-natal, porque eu estava ocupado demais me preocupando com as necessidades comunicativa e afetivas dos meus alunos. Eu NÃO sou um falante nativo de inglês; portanto – de acordo com esse comercial – não me qualifico para ensinar. Provavelmente me qualifico apenas para ser uma imitação grotesca e irresponsável de um professor.

Assim como eu, milhares de educadores esforçados, talentosos, comprometidos, apaixonados e desvalorizados (do Brasil ou de qualquer outro país não falante de inglês) são definidos em 30 segundos de uma desesperada e inaceitável tentativa de seduzir alunos. Eu conheci professores fantásticos, independente de suas nacionalidades e muitos que inclusive eram “falantes nativos de inglês”. Os melhores educadores, no entanto, sempre tiveram a dignidade de reconhecer e respeitar as qualidades de um colega “não-nativo”.

O ensino de línguas estrangeiras desenvolveu-se tremendamente para garantir a justiça e o respeito que todos os profissionais sérios da área merecem (nativos ou não). Pelo menos entre nós mesmos. Se alunos ainda insistem em dizer que um professor “nativo” é melhor, pelo menos temos o conforto de saber que dentro da nossa profissão encontramos o reconhecimento que profissionais comprometidos e qualificados precisam ter. É triste, no entanto, ser ridicularizado por um centro (que alega ser) de ensino.

Como presidente do BRAZ-TESOL, como um falante “não-nativo” do inglês, como um admirador de profissionais do ensino, independente da sua nacionalidade, eu me ressinto por ser transformado em uma piada tão irresponsável. Mas quem sou eu para ousar falar qualquer coisa sobre o ensino de inglês. Não sou a Jenny da California – o maior exemplo de educadora de inglês como língua estrangeira.

VERSÃO EM INGLÊS:

As the president of the largest association of English teachers in Brazil, I feel I have to take a stand and express my outrage and disappointment with regards to the TV commercial that has been broadcast on national television promoting an online English course.

I am NOT a native speaker of the English language, I do not have long blonde hair, I do not live in California and I do not wear a tight T-shirt to teach my students. In fact, I NEVER had a native speaker of English as a teacher. I never even lived in a foreign country. I simply studied the English language in my own developing country, and then four years of linguistics, literature, second language acquisition, morphology, pronunciation, syntax, education, pedagogy, methods and approaches. I have only dedicated 16 years of my life to the personal and professional growth of thousands of students. I have not bragged about my passport or my birthplace because I was too busy trying to understand my students’ linguistic and affective needs. I am NOT a native speaker of the language; hence – according to this TV commercial – I do not qualify to teach. I probably qualify as an irresponsible and grotesque mockery of a teacher.

Like me, thousands of hard-working, gifted, committed, passionate and under-valued educators (from Brazil or ANY other non-English speaking country) are depicted in 30 seconds of a despicable and desperate attempt to seduce students. I have met outstanding teachers regardless of their nationality and many of which who were native English speakers. The best English speaking educators I have met, however, were always dignified enough to acknowledge the qualities of a non-native speaker colleague.

Foreign language education has developed tremendously so as to guarantee the fairness and respect that all serious language professionals deserve (native speakers or not). At least among ourselves. If students still insist that a native speaker is better, we should at least rest assured that in our own profession we can find the respect and the recognition that a committed and qualified professional needs to have. It is sad, however, to be ridiculed by another (so-called) educational centre.

As the president of BRAZ-TESOL, as a non-native speaker of the English language, as an admirer of teachers regardless of their nationality, I resent such an irresponsible joke. But then again, who am I to even think about saying anything about the learning and the teaching of English? I am not Jenny from California – the utmost example of a foreign language educator.

VERSÃO EM ESPANHOL:

Como presidente de la mayor asociación de profesores de Inglés de Brasil, Creo que debo manifestar mi posición y expresar mi decepción y desacuerdo en relación al anuncio que está siendo trasmitido en red nacional promoviendo un curso de inglés en línea.

NO soy hablante nativo de lengua inglesa, no tengo cabello rubio, no vivo en California y no uso una camiseta ceñida al cuerpo para enseñarles a mis alumnos. De hecho, NUNCA he tenido un maestro de inglés “nativo”. Ni siquiera viví en el extranjero. Simplemente estudié inglés en mi país de origen y después hice cuatro años de estudio en lingüística, literatura, adquisición en idiomas extranjeros, morfología, pronunciación, sintaxis, educación, pedagogía, métodos y enfoques pedagógicos. Simplemente he dedicado 16 años de mi vida al desarrollo personal y profesional de miles de alumnos. Nunca he mostrado mi pasaporte o mi ciudad natal pues estaba demasiado ocupado tratando de entender las necesidades comunicativas y afectivas de mis alumnos. NO soy un hablante nativo del inglés; por lo tanto – de acuerdo con ese anuncio – no estoy calificado para enseñarlo. Probablemente sólo califico como una imitación grotesca e irresponsable de un maestro.

Así como yo, miles de educadores trabajadores, talentosos, comprometidos, apasionados por su trabajo y desvalorados (de Brasil o cualquier otro país donde el inglés no es su lengua nativa) son caricaturizados en 30 segundos en una desesperada e inaceptable tentativa de seducir alumnos. He conocido maestros sobresalientes, independientemente de sus nacionalidades y muchos que, incluso, eran “hablantes nativos del inglés”. Los mejores educadores nativos, sin embargo, siempre tuvieron la dignidad de reconocer y respetar la calidad de un colega “no nativo”.

La enseñanza de lenguas extranjeras se ha desarrollado tremendamente para garantizar la justicia y el respeto que todos los profesionales serios de este sector merecemos (nativos o no). Por lo menos entre nosotros mismos. Si los alumnos aún insisten en decir que un maestro “nativo” es mejor, debemos por lo menos estar seguros de saber que en nuestro gremio profesional encontraremos el reconocimiento que todo profesional comprometido y calificado necesita tener. Es triste, sin embargo, ser ridiculizado por un centro (que se supone sea) de enseñanza.

Como presidente de BRAZ-TESOL, como hablante “no nativo” del inglés, como un admirador de profesionales de enseñanza, de cualquier nacionalidad, me siento ofendido por haber sido transformado en un chiste tan irresponsablemente. Pero quién soy yo para osar decir algo sobre la enseñanza de inglés. No soy Jenny, de California – el más grande ejemplo de educadora de inglés como lengua extranjera.

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Leia mais em: http://educacaobilingue.com/2012/05/23/cartavinnie/

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