quarta-feira, 5 de maio de 2010

A importância do contexto

Por Ulisses Wehby de Carvalho

Source: http://www.teclasap.com.br/blog

É impressionante o número de perguntas que chegam ao “Fórum Tecla SAP” com títulos do tipo “Como se diz “qualquer coisa” em inglês?”. Até aí nada de extraordinário, pois trata-se de interesse legítimo em ampliar os conhecimentos da língua inglesa. O que muitos estudantes não percebem é que, instintivamente, acabam criando a expectativa de que existe uma conexão direta e estática entre os vocábulos, como se houvesse uma relação biunívoca entre as palavras. Relação o quê? É isso mesmo, biunívoca. Para quem não se lembra das aulas de matemática, uma relação biunívoca é aquela que associa, a cada um dos elementos de um conjunto, um único elemento de outro conjunto, e vice-versa, como na Figura 1 abaixo.

É natural que, ao começarmos a estudar uma língua estrangeira, façamos esse tipo de associação. Que atire a primeira pedra quem, conscientemente ou não, nunca pensou assim. Acontece que, na prática, nenhum termo existe em um fundo cinza estéril. Palavra só é palavra de verdade quando está dentro de um contexto. Tomemos como exemplos três situações distintas, como na Figura 2.

Vejamos agora o que acontece com os mesmos vocábulos do exemplo inicial (Figura 1), agora inseridos no contexto esportivo (Figura 3), mais especificamente no mundo do tênis. Observe as possíveis alterações de sentido.

É lógico que “pegador” aqui não é o rapaz namorador que faz muito sucesso com as garotas. Trata-se de “BALL BOY”, o “pegador de bolas” no tênis. Quanto a “LOVE” querer dizer “zero”, confira o post Vocabulário: Zero publicado aqui no Tecla SAP. Mudemos de contexto mais uma vez e vejamos o que acontece no próximo caso.

Aí você me pergunta: Quer dizer que “HOUSE” no contexto político significa “câmara (dos deputados)”? Então “WHITE HOUSE” é “Câmara Branca” por acaso? Eu respondo: não caia na mesma armadilha! É claro que “WHITE HOUSE” sempre foi e continuará sendo “Casa Branca”. Não se esqueça, no entanto, de que “HOUSE” pode ser “casa” ou, entre outras acepções, “Câmara”. Jamais se esqueça de que as relações entre os elementos de um conjunto com os do outro conjunto são muito voláteis. Em outras palavras, são relações de curtíssima duração. Está começando a entender onde quero chegar? Observemos mais um quadro:

Ao encerrar uma carta para parente ou amigo próximo é comum usarmos a palavra “LOVE”. Nesses casos, podemos afirmar que “LOVE” é equivalente a “beijos”. Consulte os posts Vocabulário: Abraço e Curiosidades: XOXO para ler mais sobre o assunto. Em frases como “Oh boy, it’s cold in here!”, “BOY” passa a ser uma interjeição que indica surpresa, indignação, alegria etc. Poderíamos traduzi-la por “caramba”, “minha nossa” ou outra locução sinônima. Eu até poderia adicionar mais um ingrediente a essa salada se eu fosse falar de regionalismo, ou seja, “BOY” poderia, nesse caso, ser “Vixi!”, “Rapaz!”, “Caraca!”, “Meu!”, “Bah!”, “Eita!”, dependendo, é lógico, da região do Brasil em que você se encontra. Mas regionalismo fica para outro post.

Se a tese é válida até mesmo para palavras elementares como “LOVE”, “HOUSE” e “BOY”, o que dizer então de “POWER”? Como traduzir “POWER BOAT”, “POWER DRILL”, “POWER OF ATTORNEY”, “POWER STEERING” e “POWER SUPPLY” só com uma palavra em português? Simplesmente não dá. Há ainda “BREAKTHROUGH”, “EMPOWERMENT”, “TAKE FOR GRANTED”, entre muitas outras expressões que acabam gerando dificuldades quando são transpostas para o nosso idioma. Acontece que todas, invariavelmente, têm tradução! Clique nos links para conferir as soluções dadas por Isa Mara Lando, em seu excelente VocabuLando, ferramenta indispensável para quem leva a sério o estudo de inglês e a tradução. Infelizmente, não é sempre a mesma palavra, como acreditam alguns. As traduções serão feitas cada hora de um jeito, cada hora com uma solução diferente.

Espero que você tenha compreendido que os idiomas não são códigos que possuem símbolos análogos que podem ser simplesmente substituídos uns pelos outros. Se fosse assim, os softwares de tradução automática já teriam dado aos tradutores de carne e osso o mesmo destino que a calculadora deu ao ábaco. Em suma, estudar inglês é muito mais do que criar uma tabela de duas colunas no Word!

Lembre-se, portanto, das próximas vezes que perguntar o significado de palavra ou expressão no “Fórum Tecla SAP“, de dizer em que contexto você a ouviu/leu ou em que situação gostaria de empregá-la. Faça o mesmo na hora de guardar os significados de palavras e expressões novas no seu banco de dados mental.

Se até a matemática, uma ciência exata, tem um símbolo para indicar aproximações (aquele sinal de igual com o til em cima, lembra?), é loucura imaginar que as línguas, maleáveis por natureza, são precisas e estáticas. Mas são justamente a aparente incoerência e a constante imprevisibilidade suas características mais encantadoras. Qual seria a graça de somar 2 + 2 se o resultado sempre fosse 4?

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