By Ricardo Schütz
INTROVERSÃO x EXTROVERSÃO NO APRENDIZADO DE LÍNGUAS
O efeito do conhecimento gramatical sobre a capacidade comunicativa do aprendiz dependerá muito da característica de personalidade de cada um.
Pessoas que tendem à introversão, à falta de autoconfiança ou ao perfeccionismo, pouco se beneficiarão de um conhecimento da estrutura da língua e de suas irregularidades. O efeito pode até ser adverso, no caso de uma língua com alto grau de irregularidade como o inglês. Com pouco ou nenhum contato com a língua falada e depois de anos de inglês inspirado em learning no ensino médio e em alguns cursos livres, onde desvios naturais de linguagem são classificados como "erros" e prontamente corrigidos e reprimidos, o aluno adquire consciência da alta probabilidade de se cometer erros com a língua. Para aqueles que por sua natureza são inseguros, isto representa um bloqueio que compromete a espontaneidade.
Por sua vez, pessoas que tendem à extroversão, a falar muito, de forma espontânea e improvisada, também pouco se beneficiarão de learning, uma vez que a função de monitoramento é quase inoperante, está submetida a uma personalidade intempestiva que se manifesta sem maior cautela. Os únicos que se beneficiam de learning, são as pessoas cujas características de personalidade se situam num ponto intermediário entre a introversão e a extroversão, e que conseguem aplicar a função de monitoramento de forma moderada e eficaz. Mesmo assim, este monitoramento só funcionará se ocorrerem 3 condições simultaneamente:
- Preocupação com a forma: que a pessoa concentre atenção não apenas no ato da comunicação, no conteúdo da mensagem, mas também e principalmente na forma.
- Existência e conhecimento da regra: que haja uma regra que se aplique ao caso, e que a pessoa tenha conhecimento desta regra e possíveis exceções.
- Tempo suficiente: que a pessoa disponha de tempo suficiente para avaliar as alternativas com base nas regras incidentes.
O gráfico abaixo ilustra a relação entre as características de personalidade e o efeito de learning.
O GRAU DE SINALIZAÇÃO FONÉTICA DA LÍNGUA E A INEFICÁCIA DE LEARNINGÉ também fácil de se avaliar o grau de sinalização fonética das línguas e entender a importância que esse aspecto tem. Se analisarmos e compararmos o espanhol e o português com o inglês, observaremos uma grande diferença, sendo o inglês extremamente mais econômico e compacto do que as línguas latinas. Isto significa uma dificuldade superior de se alcançar proficiência oral na língua-alvo partindo do português ou do espanhol para o inglês, do que no sentido contrário. Significa também que mais tempo deve ser dedicado à prática oral e menos tempo desperdiçado com traduções de textos, regras gramaticais e memorização de vocabulário.
A IDADE DO APRENDIZ E A EFICÁCIA DE ACQUISITION x LEARNING
A maioria dos estudos existentes, bem como as experiências de quem observa e acompanha o aprendizado de línguas estrangeiras, evidenciam que quanto menor a idade, mais fácil, mais rápido e mais completo será o aprendizado. Assim como a idade é um fator determinante no aprendizado de uma forma geral, ela também é um fator determinante no grau de eficácia de acquisition e learning. Desconsiderando fatores pessoais como personalidade, motivação, acuidade auditiva, e tomando como amostra o aprendiz normal, poderíamos afirmar que quanto menor a idade, maior a eficácia de acquisition. Learning, por sua vez, parece se mostrar apenas parcialmente eficaz na faixa etária de maturidade intelectual, como procuramos demonstrar no gráfico abaixo.
INSTRUTOR NATIVO x NÃO-NATIVO
Professores nativos e não-nativos possuem diferentes talentos. Programas inspirados em acquisition e learning exigem diferentes talentos.
O ensino de línguas no Brasil ainda é predominantemente baseado em language learning, trabalhando com textos ou seguindo planos didáticos sequenciais de exercícios orais de repetição e lições de casa sobre pontos gramaticais. Para este tipo de ensino, cujo objetivo primeiro é transmitir conhecimento sobre o idioma, professores não-nativos com sua experiência de "já terem percorrido o mesmo caminho", em geral, levam vantagem sobre os nativos.
Já em programas inspirados em language acquisition, não há propriamente um professor, há, isto sim, interação humana entre pessoas, na qual um funciona como agente facilitador e através da qual o outro (aprendiz) escolhe seu próprio caminho construindo sua habilidade na direção de seus interesses pessoais ou profissionais. Ao invés de um plano didático, programas de language acquisition oferecem experiências de convívio. Aqui, a presença de representantes autênticos da língua e da cultura que se busca assimilar é fundamental. Instrutores nativos, portanto, levam larga vantagem numa abordagem comunicativa, inspirada pelo conceito de language acquisition.
NÚMERO DE ALUNOS POR GRUPO
Na implementação de programas para o ensino de inglês inspirados em language acquisition o tamanho dos grupos é de importância crucial. Isto porque language acquisition pressupõe a predominância da língua e da cultura do instrutor no ambiente da sala de aula. Quanto maior o número de aprendizes no grupo, tanto maior a dificuldade do instrutor para impor sua língua nas atividades e menos pessoal o contato deste com cada aluno.
CONCLUSÃO
Krashen finalmente conclui que language acquisition é mais eficaz do que language learning para se alcançar habilidade funcional na língua estrangeira, não apenas na infância.
Language learning fica limitado a um papel complementar, na forma de materiais de apoio, aulas de apoio, etc., e será útil apenas para alunos adultos que possuem um estilo de aprendizado analítico, baseado em regras e racionalidade, e que conseguem monitorar sua produção oral de forma moderada e eficaz. Language learning tende a ser mais eficaz também com línguas que possuem um nível maior de regularidade, bem como em programas onde o tamanho dos grupos não pode ser reduzido.
Conclui-se também que o ensino de línguas eficiente não é aquele atrelado a um pacote didático predeterminado, gramaticalmente sequenciado, baseado em tradução ou em exercícios orais repetitivos e mecânicos, nem aquele que utiliza recursos tecnológicos. O ensino de línguas eficiente é aquele que é personalizado, em ambiente bicultural, e que explora as habilidades pessoais do facilitador em construir relacionamentos, criando situações de comunicação real voltadas às áreas de interesse do aluno, com uma linguagem ao alcance do seu entendimento.
Source: http://www.sk.com.br/sk-laxll.html
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