segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ensinar ou Aprender?


- Você ensina inglês há quanto tempo? – ela perguntou.

- Na verdade, não ensino inglês – respondi.

- Deve ter ocorrido algum engano – ela diz – Eu chamei uma tal de “Frank Experience”, pois eu quero aprender inglês. Eles deveriam ter me enviado um professor de inglês.

- Eu sei – respondo – mas como falei, eu não ensino inglês. Ensinar vem do latin “insignīre”, verbo composto do prefixo "in" (dentro) + "signire" (significar) colocar alguma informação “signo” dentro da sua cabeça. Nós não fazemos isso. Como poderíamos? O que ensinamos é o processo de aprender, palavra que deriva do latim "apprehendere", que significa apanhar, apropriar, adquirir conhecimento. O verbo aprender deriva também de preensão, do latim "prehensio-onis", que designa o ato de segurar, agarrar e apanhar, prender, fazer entrar, apossar-se de. That´s why, não ensinamos inglês. Volto a dizer: como poderíamos?
Como poderíamos ensinar algo se não sabemos quem você é, como aprende, quais são os seus limites e como gosta de estudar? Você só vai conseguir falar inglês se aprender de verdade e nunca aprenderá realmente se eu apenas ensinar. O professor de línguas não deveria “ ensinar”, e sim, educar, palavra que vem do latim "educare" , por sua vez ligado a "educere", verbo composto do prefixo "ex" (fora) + "ducere" (conduzir, levar), que significa literalmente 'conduzir para fora', ou seja, preparar o indivíduo para usar seu conhecimento no mundo.

- Engraçado! – disse ela rindo – Pensei que você falaria de inglês e você está me dando uma aula de latin.

- Actually, você está tendo uma explicação sobre o inglês mesmo.
Cerca de 50% do inglês vem do latin, por influência da antiga dominação do império romano e porque o francês já foi a língua nacional da Inglaterra por quase três séculos.

- Aula de história agora! – ela ri.

- Perceba que sem compreender o que você está aprendendo, você jamais conseguirá falar inglês ou qualquer outra coisa que você queira aprender. Precisamos que você não apenas compreenda como aprende, mais também que faça parte do processo, assumindo a responsabilidade de aprender. Há muitas pessoas que nos procuram, pensando equivocadamente que temos alguma mágica lingüística ou pílula do idioma para fazê-los falar automaticamente. Isso não existe.

- Já sei, como é mesmo aquela frase do inglês...”No pain, no gain!”:
sem sofrer, não chegarei lá.

- Quite the opposite! – respondi – Para aprender, você precisa se divertir com o processo: “No fun, no gain!”. Toda informação que chega ao cérebro passa por alguns filtros que “censuram” o que deve ou não deve ser guardado em sua memória. Estes “filtros” defensores, ajudam a discriminar e colocar atenção no que realmente importa aprender. Esses filtros são conhecidos pela sigla RAD, ou seja, sistema radicular (R), amígdala (A) e a intervenção da dopamina (D).
Para que uma informação nova (uma palavra nova em inglês, por exemplo) consiga passar pelo primeiro filtro “R”, ela necessita se apresentar como novidade que seja, no mínimo, interessante. Toda informação que consideramos “chata” ou “sem graça” é imediatamente bloqueada por esse filtro. Se, ao contrário, a informação é sugestiva, saborosa (savoring), ela passa por esse filtro e enfrenta a amígdala, o segundo filtro “A” que também é conhecido por filtro “afetivo” ou “emocional”.
Fica claro, que se a informação que chega ao filtro “A” não for agradável ou emocionante, o segundo filtro vai bloqueá-la. Vencido o segundo filtro, a informação “banha-se” de “D”, a famosa dopamina, que é o neurotransmissor do prazer. E tudo que é bom, divertido e prazeroso fica com a gente para sempre.

- Aula de neuropsicologia? – ela pergunta – Nossa! Como é mesmo o seu nome?

- Frank!

- Olha, Frank! Não me interessa “aprender” isso aí que você está falando, não! Eu quero apenas falar inglês, sabe? Isso tudo aí é muito confuso e deve haver algum jeito melhor e mais rápido para eu fazer isto. Muito obrigado pelo seu tempo.

- Thank you pela oportunidade de conhecê-la e boa sorte em sua busca.

Moral da Crônica: há pessoas que nasceram para ser ensinadas e outras que nasceram para aprender. Qual delas é você?

Professor Frank.

Nenhum comentário:

Postar um comentário